quarta-feira, 22 de outubro de 2008

MÃE, SAUDADES ETERNAS!!!!





Para sempre



Por que Deus permite


que as mães vão-se embora?


Mãe não tem limite,


é tempo sem hora,


luz que não apaga


quando sopra o vento


e chuva desaba,


veludo escondido


na pele enrugada,


água pura, ar puro,


puro pensamento.



Morrer acontece


com o que é breve e passa


sem deixar vestígio.


Mãe, na sua graça,


é eternidade.


Por que Deus se lembra


- mistério profundo -


de tirá-la um dia?


Fosse eu Rei do Mundo,


baixava uma lei:


Mãe não morre nunca,


mãe ficará sempre


junto de seu filhoe ele,


velho embora,


será pequenino


feito grão de milho.


Drummond

domingo, 12 de outubro de 2008

Não vou mais lavar os pratos.


NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS


Não vou mais lavar os pratos.

Nem limpar a poeira dos móveis.

Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro dia um livro e uma semana depois decidi.

Não levo mais o lixo para a lixeira. Nem arrumo mais a bagunça das folhas no quintal.

Sinto muito. Depois de ler percebi a estética dos pratos, a estética dos traços, a ética, a estática.

Olho minhas mãos bem mais macias que antes e sinto que posso começar a ser a todo instante.

Sinto.

Agora sinto qualquer coisa.

Não vou mais lavar os tapetes.

Tenho os olhos rasos d'água.

Sinto muito. Agora que comecei a ler quero entender o por quê, por que e o por quê.

Exintem coisas. Eu li, e li, e li... Eu até sorri e deixei o feijão queimar.

E olha que feijão sempre demora para ficar pronto...

Considere que os tempos agora são outros...

Ah, esqueci de dizer: não vou mais.

Resolvi ficar um tempo comigo.

Resolvi ler sobre o que se passa conosco.

Você nem me espere, você nem me chame. Não vou.

De tudo o que jamais li, de tudo o que entendi, você foi o que passou. Passou do limite, passou da medida, passou do alfabeto. Desalfabetizou. Não vou mais lavar as coisas e encobrir as sujeiras inteiras, nem limpar a poeira e espalhar o pó daqui para ali e de lá para cá.

Desinfetarei minhas mãos.

Depois de tantos anos alfabetizada, aprendi a ler.

Sendo assim não lavo mais nada e olho a poeira no fundo do copo. Vejo que sempre chega o momento de sacudir, de investir, de traduzir.

Não lavo mais os pratos.

Li a assinatura de minha lei áurea.

Escrita em negro maiúsculo, em letras tamanho 18, espaço duplo.

Aboli.

Não lavo mais os pratos.

Quero travessas de prata, cozinha de luxo e jóias de ouro. Legítimas.

Está decretada a Lei Áurea.





Texto de Cristiane Sobral.